Bom ano.
31/12/2009
"da década.".
Ora vamos lá.
Uma das coisas divertidas de ler no patusco Rosenbaum surgia no final de cada ano, quando ele expressava basicamente o seguinte: estes bandalhos destes críticos mainstream, pá, que só debitam listas de best of de cada ano como publicidade camuflada aos produtos das majors, pá, e que 'tão todos metidos na cartelização Grandes Companhias/ Academia, pá, uma vergonha. Pá. E depois de exclamar a sua indignação para com os bandalhos, o Jonathan escrevia... uma lista. Enquadrava-se no negócio das listagens a velha máxima de Saint Godard, de que para se criticar um filme o melhor era fazer um. A verdade é que ninguém gosta de fazer listas. Ninguém mesmo. Mas no final de cada ano (nalguns casos mais extremos ao fim de quinze dias), lá estão elas a empastar papel (só à ocupação das listas de fim de ano em cada jornal ou revista deve equivaler-se a quantidade de 500 mil toneladas de madeira) ou a preencher centenas de milhar de tetra-gigas. É como aquela piada no The Shawshank Redemption (o melhor filme de sempre, para o Dr. Luís Filipe Menezes): aqui somos todos inocentes. Rais' parta as listas. Bandalhos!
O segundo mais importante acontecimento da década está logo na primeira imagem. Bendito Bela Guttman. O meu filme da década é o They Live!, realizado em 1988, e que seguramente ocupará a mesma posição no final de 2019, isto no caso de eu não me tornar "crítico" da Time Out. O meu filme de 2009 é o City Girl, do Murnau, que me fez chorar como eu não me lembrava (embora em sentido inverso) desde aquela ocasião em que no circo um palhaço se aproximou de mim. O meu outro filme de 2009 é o Gran Torino, ou a classe que é abrir uma lata de cerveja e sorver a espuma. Disco da década é o Amnesiac, dos Radiohead, embora estivesse na dúvida se não haveria de colocar um do Bob Dylan, apesar de nunca ter ouvido uma canção completa do senhor. Livro da década, escrito no ano em que a minha avó nasceu, é o The Sound and the Fury, lido nas gélidas noites invernais de 2002 e que me aguçou para sempre a ideia de no final da vida ir viver para os lamaçais e putedo sulistas. Gaja da década a Ludovigne Sagnier no Swimming Pool. Acho que tem a ver com o facto de eu naquela altura andar com uma outra gaja parecidíssima com ela. Até as mamas são parecidas (pelo menos naquela altura eram). Jogador da década, Messi, que só não classifico de melhor jogador desde a tomada de Bastilha porque não era vivo quando o Cubillas jogava. Também ponderei a hipótese Derlei 2002/2004. Site da década, a milhas de distância de qualquer outro, o já por aqui referido GGG, aí exemplificado com uma foto da extraodinária Annette Schwartz, em cujo último vídeo que vi era esporrada na cara num pinhal e depois caminhava até a um campus universitário ainda com a esporra a pingar do olho. O programa televisivo da década são as duas primeiras séries dos Gato Fedorento, na Sic Radical, bem antes de se tornarem nos bobos da corte do actual regime. O emule foi uma benção, permitindo-me ver muita coisa que dificilmente poderia visionar noutro lado e impedindo-me de gastar euros para encher o bandulho dos senhores dvd. Ai os extras, ai Minha Mãe, olha ali aquela cena em que se vê o Tim Burton a comer uma maça com caroço. Algum comentador Vasconcelos, algum cineasta Valente, algum Jorge Paixão da Costa é capaz de fazer o obséquio de contratar os meus serviços? É que foi também nesta década que me tornei um expert em Adobe Premiere e Avid. Com toda a humildade, posso afirmar que sei fazer uma coisa que, por exemplo, o Baz Lurhmann não sabe: ligar dois planos. Foi já com vinte e dois anos que comecei a fumar, e depois daquela exaustiva greve de três horas em 2006 cheguei à conclusão de que quem me tira um Chesterfield tira-me o...oxigénio. Perceberam? Cigarros..oxigénio? Sim? Vocês também são todos uns bandalhos. Desde 2004 ou 2005 que religiosamente bebo sempre duas cervejas por dia. No mínimo. Nunca fiquei bêbado. E aquele jantar num snack bar da Rua da Misericórdia provou-me, se havia dúvidas, de que os jaquinzinhos são o melhor petisco de sempre. Bandalhos.
De 2009,
1. Gran Torino
2. The Hurt Locker
3. Inglorious Basterds
4. La Mujer sin Cabeza
5. L' Heure d'été
6. Public Enemies
7. Two Lovers
8. Les Plages d' Agnès
9. Singularidades de uma Rapariga Loira
10. Che, part one
"da década" (com bónus de mais trinta e com arrumação apenas instintiva),
Takeshi's, Kitano
Still Life, Zhang Ke
Sin City, Rodriguez
Catch Me if you can, Spielberg
Vai e Vem, Monteiro
Gran Torino, Eastwood
Elephant, Van Sant
La Ciénaga, Martel
Cars, Lasseter
Hundstage, Seidl
There Will Be Blood, Anderson
Million Dollar Baby, Eastwood
Iklimer, Ceylan
In The Mood For Love, Kar Wai (só à terceira)
Zodiac, Fincher
The Host, Bong-ho
Onde Jaz o teu Sorriso?, Costa
Juventude em Marcha, Costa
Los Muertos, Alonso (não sei nem quero saber se é o que mais gostei de ver, mas sei que era o que eu mais gostaria de ter realizado)
Fantasma, AlonsoMinority Report, Spielberg
A History of Violence, Cronenberg
S-21, Pahn
De l'autre côté, Akerman
Mulholland Drive, Lynch
Royal Tenenbaums, Anderson
Mysterious object at noon, Apichatpong
Before Sunset, Linklater
ABC Africa, Kiarostami
Noite Escura, Canijo
Les Glaneurs et la Glaneuse, Varda
The New World, Malick
Femme Fatale, de Palma
Mission To Mars, de Palma
Rapace, Nicolau
YI YI, Yang
Russian Ark, Sokurov
L' Anglaise et Le Duc, Rohmer
Be With Me, Khoo
Visitor Q, Miike
Megliu Giuventù, Giordana
Crimson Gold, Panahi
25th Hour, Lee
Team America, Parker
Stanza del Figlio, Moretti
Kill Bill 2, Tarantino
Ali, Mann
Va Savoir, Rivette
Caché, Haneke (ninguém é perfeito)
Le Voyage du ballon Rouge, Hou
En La Ciudad de Sylvia, Guerin (quando for grande também quero fazer disto. Ou montar. Tenho um diploma).
O Delfim, LopesWe own the Night, Gray
The Hurt Locker, Bigelow
Election 2, To
Gomorra, Garrone
Anges Exterminateurs, Brisseau
Vou Para Casa, Oliveira
The Big Red One: The Reconstruction, Fuller.
They Live!, Carpenter.
Esqueci-me de mais uns trezentos e vinte (dos quais não faz parte o Lost in Translation).
29/12/2009
o cachimbo.
Não ter ido ao cinema ver Inglorious Basterds foi uma das decisões acertadas de 2009. Aliás, não ter ido muito ao cinema, em 2009, constituiu-se como uma escolha acertadíssima. Os meus cada vez mais baixos índices de tolerância para com telemóveis coloridos, gargalhadas alarves fora de contexto, sussurros incomodativos e pipocas barulhentas superam em larga escala a "magia da tela", que mesmo assim ainda lá vai resistindo aos golpes alheios, como na projecção do Public Enemies, em que uma mulher, em vez de estar a realizar tarefas construtivas, como lavar o chão de casa, fazer cachecóis para os sobrinhos ou lavar a louça, preferiu desperdiçar o seu tempo e a minha paciência a mexer com esmero nas chaves do carro ou da casa. E depois admiram-se que existam assassínios em massa. Por tudo isto, contribuo cada vez mais para as economias da pirataria, ora sacando filmes ora comprando cópias em óptimo estado ao meu cigano de confiança. Perdem-se a "magia da tela" e a "pureza" da cinefilia, mas ganha-se sossego e concentração, até porque não estou a ficar mais novo. Já referi a "magia da tela"? Ah sim, vejo que já. E agora, a insídia. Foi a ver aquele diálogo entre o De Niro e o Pesci, no Raging Bull, em que o primeiro tece uma teia à volta do segundo para perceber se este tinha ou não fodido a sua mulher, que eu dei por mim a pensar "epá, isto do cinema é capaz de ser fixe". A arte da insídia, da tortura psicológica, do verbo e dos gestos como armas estratégicas para se obter o que se pretende, é uma das grandes alavancas dramáticas que um filme pode ter, e a técnica primordial para o efeito desejado é ter a câmara o mais repousada possível, só a movendo ligeiramente no caso imprescindível de ter que se revelar elementos essenciais à sequência, como por exemplo uns judeus escondidos numa cave. Os trejeitos afectados de Christoph Waltz nos primeiros vinte minutos de Inglorious Basterds (ou mais tarde, na cena do strudel, em que como bónus se ensina aos clientes do Eleven de como se deve comer), uma afabilidade que aterroriza devido ao conhecimento que o espectador tem daquela farda, e que conjugada com a minúcia burocrática com que dispõe papéis e molha a caneta no tinteiro, torna toda a sequência um exemplar quase-perfeito na grandiosa arte da insídia. E o momento em que apresenta o seu fantasioso cachimbo é a mais singular demonstração de Poder de que me lembro em pelo menos uma semana. Ora, toda esta tensão construída à base do esqueleto da palavra (implacável, a milhas da pífia e insuportável verborreia das galinhas da segunda parte do Death Proof), da expressão corporal e do SOM requer silêncio, recato e ambiente de mosteiro. Duvido, portanto, que face à luta efectuada por uma horda de pitas, pitos e de enfastiados casais de classe média , a "magia da tela" conseguisse prevalecer com toda a sua "força". Gosto tanto da expressão "a magia da tela"; melhor só mesmo "a magia do cinema".
24/12/2009
18/12/2009
alegoria da caverna.
18/11/2009
o fascismo fica em casa.
Vá para a sagrada puta que o pariu.
ps4- segue o cinema. Aí 'pra 2011.
ps1- por falar em fascistas. Alguém que tenha a bondade de me acudir. A espuma libertada pelos admiradores do admirador de Pinochet, do bronco bilionário e do analfabruto disfuncional já me tornaram impossível a saída de casa. Parece a sequência final do Ghostbusters 2.
ps2- nasceu mais um mito, digno do milagre dos três pastorinhos. Milhares e milhares de pessoas juram a pés juntos que Edin Dzeko é "jogador de futebol".
ps3- bandeiretas, buzinadelas, mulherio com cona nacionalista de cachecol ao ombro e gritinhos histéricos, velhotas na mercearia a falarem da "selecção", bola, bola, bola. Mas depois lembro-me da espuma...
ps4- segue o cinema. Aí 'pra 2011.
ps5- os gajos daquele sítio cortaram-se. no material até ordem em contrário. Private Message over.
11/10/2009
msn. há escassos minutos.
tiago says:
n sei. amanhã A BOLA :"aimar foi dos poucos a se salvar"
Daniel says:
e foi
tiago says:
vais-me dizer que trocavas os ultimos vinte minutos do um condenado à morte...por uma cona?
Daniel says:
como seria essa troca?
Daniel says:
argentina faz 2-1
tiago says:
pó caralho
Daniel says:
epa, cona acima de tudo
tiago says:
"cona a cima d ebresson". belo blog
Daniel says:
a seco, nao havia bresson que me salvasse
Daniel says:
bela ideia para um filme
Daniel says:
o cinema de bresson nao salva um homem que nao fode e ele mata-se
n sei. amanhã A BOLA :"aimar foi dos poucos a se salvar"
Daniel says:
e foi
tiago says:
vais-me dizer que trocavas os ultimos vinte minutos do um condenado à morte...por uma cona?
Daniel says:
como seria essa troca?
Daniel says:
argentina faz 2-1
tiago says:
pó caralho
Daniel says:
epa, cona acima de tudo
tiago says:
"cona a cima d ebresson". belo blog
Daniel says:
a seco, nao havia bresson que me salvasse
Daniel says:
bela ideia para um filme
Daniel says:
o cinema de bresson nao salva um homem que nao fode e ele mata-se
07/10/2009
época 2002/03 em 2009.
Há realizadores que para contarem uma história "universal" e encharcada de "optimismo" utilizam a grandiosa "universalidade" da linguagem videoclipesca com a gravidade de um Liedson. Elide-se qualquer vestígio de força inerente a um plano, vai-se sempre a abrir, trivializa-se a História até não restar mais nada do que, na melhor das hipóteses, e com muita gentileza, uma visão pitoresca da realidade, e na pior como televisiva; é o Amélie Poulain aplicado a um tema de prestígio. Ao pé disto, a sua visão quase idólatra do capitalismo (cuja primeira aparição surge na forma de uma tipa a fazer strip-tease- isto já fizeram o Walter Hill e o Schwarzenegger em 1988, com o Red Heat, mas sem tanto prestígio- , o que é sintomático) é a menor das chatices. O novo cinema alemão não passou por aqui, a não ser para os vestutos membros da também ela prestigiada Academia, que devem ter batido punhetas uns aos outros ao verem esta glorificação do pior "arte e ensaio acessível ao povo". Goodbye, Lenin é um daqueles filmes para quem diz achar o Spielberg um realizador "infantil" e que depois esclarecem, muito enfatuados, que gostam é "do cinema europeu". Conheço um um outro. Também tresandam a prestígio. Vão todos para o caralho.
Encontrei-me em êxtase durante os primeiros trinta minutos de Intervention Divine. Cinema puríssimo, raspado de qualquer saliência psicológica, uma gigantesca elipse cheia de buracos para o espectador preencher com aquilo que Deus Nosso Senhor nos providenciou, a imaginación. Mas depois de suceder um dos melhores gags (políticos) do século, envolvendo um caroço de uma nêspera, surge outro filme. Mais ruidoso, tanto literal como metaforicamente, com a alusão mais subtil a dar lugar a uma explicitação insonssa, cheia de momentos "significativos", como aquela ridícula (porque deslocada) sequência à Matrix. Mas pronto, tem de existir "conteúdo", senão quem é que ia ligar pevide a uma obra palestiniana? Suleiman dá ao espectador ocidental (de esquerda) aquilo que ele espera: umas valentes bordoadas nos israelitas, para a consciência ficar menos pesada. Tivesse terminado com a explosão do tanque, punchline perfeita, e teria sido uma obra-prima de uma curta-metragem.
Dia Monteiro-10
"Gostaria mais de um ou dois punhados de ervilhas secas." - Shakespeare. Sonho de Uma Noite de Verão, IV,II.
Ainda que fosse grande a minha boa vontade (e não é), como poderia falar de um filme que nem sequer vi na íntegra, e cuja sorte deliberadamente ignoro? Digamos que entrei em férias cinematográficas e tenho por único entusiasmo engordar e ouvir música. Para isso, para a minha satisfeita plenitude na banha e no fá diese, sou forçado a obrar, dado que, por infortúnios e inconsequências minhas, não soube haver-me nas artes malsãs da ociosidade.
Tentarei, o melhor que souber, executar as tarefas de que for incumbido, e as exigências do meu ganha-pão hão-de aumentar com a destreza do meu ganha-mão.
Sou amável e, pouco a pouco, mergulho na doçura. Não me chateiem, contudo, com o meu filme- é o filme privado de um realizador privado de filmes.
Além disso, não sou devoto de coisa nenhuma. Rio-me à flor das águas e- carnívoro indiscutível- adoro carne de porco.
in Cinéfilo nº3, 18 de Outubro de 1973.
ainda chega a director.
[...]. Mas isso é esquecer que um telefilme inglês tem muitas vezes mais cinema em cinco minutos do que 90 por cento da produção corrente americana. [...].
Jorge Mourinha, o Carlos Castro da crítica cinematográfica portuguesa, no último ipsilon.
O Jorge, além de sortudo, é uma pessoal de notável influência junto dos "corruptos" e dos "malandros" das distribuidoras. Então não é que, a avaliar pelas estrelas e críticas com que nos brinda semanalmente, são precisamente esses 10% que estreiam em Portugal, ficando os restantes 90% a marinar em terras americanas? Viva o lobbi Mourinha, viva. Para o nosso bem estar-cinéfilo.
voyeur de voyeurs.
Neste Verão que passou assisti a um "novo" desenvolvimento na relação homem-máquina. Se em Verões anteriores já tinha dado conta da crescente proliferação de Peeping Toms nas ribanceiras de uma certa praia da Linha, desta vez encontrei-os transformados em Jimmy Stewarts, munidos de uma preciosa ajuda para as suas experiências cinematográficas: uns binóculos. Talvez exasperados com a visão que se esvai (são quase todos velhinhos, coitadinhos), o Zé, o Carlos, o Mário e o Joaquim- são sempre os mesmos e por vezes andam em bando, porventura concertando em conjunto algumas estratégias que permitam um melhor desfrute- decidiram ter um auxílio que lhes permita observar, através de um diminuto God's Eye, o deboche que sucede uns metros mais abaixo. No entanto, algo estranhamente, e apesar desta ajuda, continuam a colocar-se em posições de extremo risco para a sua saúde, por vezes com uma parte do pé já para além do precipício, talvez sugeridos pela gloriosa máxima do melhor defesa-direito de sempre do futebol português, que, para se salvar da queda, dava um passo em frente. Em face deste comportamento, pede-se à Direcção-Geral das Montanhas e Rochedos para colocar um cartaz em cada arriba com os seguintes escritos: "Se é voyeur, tenha cuidado", isto partindo do inocente pressuposto de que o Zé, o Carlos e tal conseguem ver o cartaz (mesmo com os binóculos), porque eles são velhinhos, coitadinhos e nós sabemos muito bem que temos o dever de tratar principescamente os velhinhos, porque país que não trata bem dos seus velhinhos não é um país digno, mesmo aqueles que matam à machadada as suas velhinhas e que vão ao cu a meninos e que demoram trinta minutos para tirar a senha na padaria, porque, como é do senso-comum, os velhinhos, coitadinhos estão expurgados de toda a pinga de mal (menos o Pinto da Costa) e são autênticos anjos do Senhor na Terra. Foda-se, que nunca mais chego a velhinho, nem que seja para ver se tenho alguma hipótese de jogar no Milan. Conclusão elucidativa deste post: você acaba de desperdiçar entre quarenta segundos a um minuto da sua vida (uma hora no caso do genial Luís Filipe ambos os dois Vieira).
29/09/2009
Niagara.
Ah sim, o american way of life, a sua alva transparência, e depois o desespero de Joseph Cotten e o berrante vestido vermelho de Marilyn Monroe. Se o filme de Hathaway enveredasse por uma índole existencial e menos genérica, então poderíamos ter visto a contaminação da brancura do casal Jean Peters/Max Showalter pelo negrume dos despojos humanos de Cotten/Monroe, mas assim como está, está muito bem, bué da nice, sou o Zé Pedro, e aconselho os joves a não se meterem no caminho das drogues, olhem só pra mim, agora deslarguem-me, que vou executar um solo que só parará quando um cometa atingir o pelaneta. Muito bem, escrevíamos, com um argumento tortuoso em que as minhas certezas quanto ao destino das personagens foram ficando tão alicerçadas como as fundações de 25% dos prédios lisboetas. Curto, directo, e, jasus cristo, com silêncios. E Monroe de vestido vermelho, ao abandono libidinoso. Puta.
Le megliu giuventù.
Como, exceptuando o Seinfeld, as últimas séries que visionei foram aquelas reaccionárias de finais de oitenta (Alf, Knight Rider, MacGyver), decidi tomar ares com a modernidade e, não ver, mas antes criar uma própria mini-série em quatro dias, que seis horas seguidas em frente ao televisor é tarefa a desempenhar apenas por pessoas dotadas de uma descomunal força física e mental, como o Cintra Torres ou Mourinha, o Jorge. Escolha acertada, pois o folhetinesco de Le Megliu Giuventù coaduna-se muito bem com o parar e recomeçar. Inevitavelmente escolar, e daí que se foda: o essencial está em tentar tornar aquelas personagens e as suas teias de relações em sentimentos palpáveis no espectador, ao ponto de, juntamente com as mamas da Furtado, ocuparem a nossa mente no momento da dormida e do acordar. Da perda até à beatitude melancólica, é toda uma graça manipuladora que Giordana vai instarando como senhor absoluto dos seus domínios. E, cume máximo, consegue soprar a ideia de tempo a passar, mesmo que pareça que os actores envelheceram três horas em quarenta anos. Faltou a referência ao Cetim de Ouro, à Laura Pausini e a Berlusconi.
21:59 de um dia da semana passada. Sic Notícias.
Faz hoje quinze anos que estreou um grande filme. Segundo creio, não ganhou um oscar, mas foi considerado o melhor filme de sempre pelos críticos. Refiro-me ao "Os Condenados de Shawshank".
Luís Filipe Menezes, médico.
Dia Monteiro-9
OS SOBRINHOS DO ZORRO
DE MARCELLO CIORCIOLINI
in Diário de Lisboa, 13 de Março de 1970.
DE MARCELLO CIORCIOLINI
Instruções para poder ver este filme: muna-se de um cronómetro e, assim que se apagarem as luzes para o início da projecção, respire fundo, sustenha a respiração e feche os olhos. Quando já não conseguir aguentar mais, verifique o tempo que foi capaz de fazer. O filme ainda lá está.
Pode sair da sala, mesmo que não tenha batido o "record" do mundo. Se resolver ficar, bateu o record da paciência.
in Diário de Lisboa, 13 de Março de 1970.
(antes que seja tarde). moinhos de vento, parte 2.
O poço parece não ter fundo. Isto já chegou a um ponto em que não troco uma crónica benfiquista do RAP por um programa do bebé até ao avozinho destes gajos. Mas antes este erzatz desenxabido do Daily Show do que aquela "obra-prima contemporânea do humor nacional" dos Nogueiras e dos Madeiras e dos Markls. E ainda de toda e qualquer coisa que seja tocada pelo Borges da boina. Cadê o Aleixo?
(antes que seja tarde). moinhos de vento.
Os Delfins acabaram há umas semanas. Por outras palavras, um dos preferidos sacos de pancada da nova geração de comediantes portuguesa (leia-se Nogueiras, Miltons, etc) entregou a alma ao criador. Por via disto, até fui adquirindo, nos últimos anos, alguma simpatia pelo anémico grupo de Cascais, algo que pensava ter terminado no inverno de 1995, quando no chuveiro cantarolava com toda a candura o Sou como um Rio. Miguel Ângelo e seus muchachos tiveram azar em ser em da linha, alardearem uma postura clean e encherem concertos para avózinhas. Se o destino não lhes tivesse sido traiçoeiro, teriam tido o seu berço na Margem Sul, chamar-se-iam Xutos e Pontapés e seriam "malta do rock" que encheria espectáculos por todo o país para gajos e gajas do rock. E, como tal, tomariam drogas e tal, buédanice, e efectuariam solos de guitarra com a duração mínima de três meses, para gáudio febril das gajas e gajos do rock. E diriam Ché é fixi! e bora juventude, bora lutar por um mundo melhor! e seriam tão rebeldes, graças a deus. E colocariam lenços ao pescoço e teriam um símbolo que os identificasse, porque isto da malta da rockalhada é assim, tem de haver simbologia acoplada, para, no mínimo, estar garantido o sucesso anual no Avante!, por entre chouriçada e presunto dos bons. E por mais lixeira musical que tivessem produzido numa vintena de anos, estariam perdoados e, melhor ainda, institucionalizados como "malta do rock". E, aproveitando a bagagem da institucionalização, quais Hermanes Josés da música portuguesa, fariam música a lutar contra "este estado de coisas, esta pouca bergonha!", com palavras de ordem e mais solos de guitarra de três meses. E os níveis de rebeldia subiriam ainda mais, bem como a conta bancária. Seriam os Rolling Stones da lusitânia, o que não sendo de todo o modo elogioso, pois fariam nódoas líricas há apenas vinte e não trinta anos, seria sempre menos ridículo do que comparar os UHF aos The Doors, como outrora fez o saudoso Fernando Magalhães. E, muito mais importante do que isto, seriam como nós. Gente com quem nós, o povo simples e despretensioso, poderia jogar uma cartada ou uma dominada por entre meia dúzia de pires de tremoços e três grades de mines. Seria tão bonito. E os Nogueiras e os Miltons não chateariam. Apesar, ou mesmo por isso, de serem uma das piores bandas musicais do mundo.
21/09/2009
em breve: um comentário sobre os "quarenta quilómetros marcha" num filme de Raya Martin.
Não conheço nem a filmografia de Duvivier nem os contornos da sua bonita relação de amizade com os Cahiers, e portanto, abstenho-me de enviar a prestigiada revista para a santa cona do assobio. Por agora, resta-me uma obra em permanente estado de excitação, viva, com pitorescas personagens em cada esquina (quase literalmente)- um filme de local-, e o carisma iluminado de uma star (agora seria a altura indicada para escrever "disto já não há mais" ou num regime mais apocalíptico "o cinema acabou"- Alberto Seixas Santos). De facto, é temerário fazer isto, uma ignorância parva dos problemas sociais de uma grande cidade para benefício imediato do (inteligente) espectáculo; uma pouca vergonha digna dos maiores reparos. E ainda há a impureza ideológica de transformar o galã colonizador em ídolo das pobres vestimentas indígenas. À atenção de Rosenbaum. Pepe Le Moko é um filme que qualquer comentadeira quererá realizar quando for mais grande.
"Tens twitta?". "Não, mas sei ler". "Vai-ta foder!".
"Mamã, acho o novo do Bolaño apenas genial". "Filho da puta!".
piss and love.
[...] a Live Nation Merchandise acaba de comprar os direitos de produzir produtos usando o nome Woodstock (T-shirts, bonés, posters, calendários, etc.) e anunciou que espera vendas entre 50 a 100 milhões de dólares. [...].
in actual do do passado Sábado.
20/09/2009
alguém que tenha a bondade de pagar dez anos de salários ao Guarin e que depois o proíba de pisar um relvado.
Há derrotas que custam menos que outras.
Adiante. Eu pensava que o meu martírio com "magos da bola" e " jogadores de levantar estádios" tinha terminado por uns tempos com a ida daquele sujeito da trivela para Milão, onde agora vive remetido a uma merecida obscuridade nas suas catacumbas. Mas eis que, logo de seguida, lá tenho eu novamente de ser sovado com outro jogador "entusiasmante" e que é a a "alegria do povo" (benfiquista e sportinguista, suspeito). Pode ser que, quando...
1- Arranjar um cérebro.
2- Depois de arranjar um cérebro, descobrir os pontos cardeais.
3- Souber que futebol de alta competição não é a estrada de brita lá do sítio, e que brilhantes jogadas individuais apenas estão ao dispor de jogadores que não só tenham adquirido o referente no ponto um, como ainda possuam cola nos pés, aka Messi. E que depois de se falhar a mesma jogada cinquenta vezes, é pouco provável que a cinquagésima-primeira resulte.
4- Parar de choramingar e de amuar como um puto de onze anos apenas porque os outros meninos não o deixam passar.
5- Parar de protestar consecutivamente com os árbitros.
6- Aprender a ler e depois conferir no dicionário a palavra "colectivo".
...o Hulk deixe de ser tão só um "jogador entusiasmante" e "o melhor jogador do plantel do FCP" (a seguir ao Tomás Costa e ao Guarin) e se torne num jogador razoável, ao nível de um Jorge Couto. Não estou sozinho, felizmente.
17/09/2009
e aqueles rapazolas que aos quinze começam a usar t-shirts do Guevara? "Let's fuck the system! Mas primeiro deixem-me ir a casa buscar o ipod".
Alguns daqueles que acusaram Che de "não acrescentar nada" à história do argentino devem ser os mesmos que há meia dúzia de anos ficaram siderados por no Elephant não "existirem explicações". Aconselho esta gente a visitar bibliotecas, livrarias, ou, no caso de a preguiça ser muita, a ficar-se pela Internet; explicações abundantes e detalhadas é que não irão faltar a vossas mercês. Entretanto, eu já me dou por satisfeito com a ideia geral do mito no filme de Soderbergh, que volta aqui a mostrar a sua melhor qualidade, uma suavidade na montagem que faz com que duas horas e pico passem exactamente como duas horas e pico e não como dez horas e pico, como me sucedeu com outro filme recentemente adquirido na "etnia cigana". Elegância ainda mais saliente quando o realizador é um daqueles para quem as maravilhas das tecnologias e seus mais diversos usos ( onde se inclui uma câmara escangalhada ao ombro) são coisas sagradas. E todo o elenco contribui: cool, calmo e sem histerismos, mesmo num tiroteio numa rua. E, last but not the least, não se pode negligenciar qualquer filme que faça vir à tona a carcaça política do Eurico de Barros.
09/09/2009
ainda.
Nada contra (pelo contrário) "suspensões da narrativa", desde que eu não as apreenda como vaporosas, cheias de fragrância e "poesia" visual, que era o que menos gostava em Miami Vice. No novo do Mann lá voltam a estar os momentos "delicados" e "preciosos" entre Depp e a Cotillard, mas nada que esmoreça a construção de uma rara mitologia cinematográfica, tarefa a desempenhar apenas por homens com os colhões no sítio. Talvez até ainda mais do que na sequência final, é na chegada de Depp à prisão (de avião-alembrei-me do Triumph des Willens) que impressiona o gesto elegíaco do realizador, uma grandiloquência despudorada que foge do recato como eu fujo dessa irritante modazinha do poker para todas as idades. É o "anti-Pialat", que punha Van Gogh a morrer no meio de tarefas domésticas e tilintar de copos. Espero que no próximo ainda haja menos concessões ao estilo Coppola mais nova.
05/09/2009
crítica muito sucinta a alguns filmes visionados entre o final de Julho e princípios de Agosto.
01/08/2009
já marchava.
La Grand bouffe é o horror de qualquer panel...cliente assíduo do Eleven: há por lá comida. A sério. Carnes sobretudo. Vitelinhos, vitelos, vacas, coelhos, galinhas, e também muitos doces. Fode-se em cima de doces. Já o George Constanza tentava, num exercício de equilibrista de circo, combinar uma noite de delícias sexuais com repastos manjares. Sim, parece que a obra de Ferreri versa a degenerescência da burguesia ou quejandos. 'Tou-me cagando para isso, tal e qual como o Piccoli. Depois de estabelecido o início das festividades dos comensais, só pedi uma coisa: uma mise-en-scène "rigorosa", com planos o mais estáticos possível, para que a degustação não fosse atropelada pelo "cinema" . Também queria saborear, ainda que só na cabeça, aquelas toneladas de comida (a sério). Parei duas vezes o dvd do filme para ir petiscar umas sandes de presunto. Mesmo assim, o ideal, ideal, seria uma recriação da Última Ceia pelo James Benning. E os que vaiaram La Grand bouffe em Cannes, mais do que clien...paneleiros assíduos do Eleven, são uns fãs do Adrià. Mousse de arroz com banana frita em molho de tomate molecular com espuma de pata de pato patola, regada a vinho unicelular.
"aconselha-se a maior nudez possível."
Five é o olhar de um artista que visitou um dia uma cena e retirou o seu sobretudo e atirou-o fora. E depois retirou o resto das suas roupas e atirou-as fora. E depois retirou uma perna, e também a atirou fora. E depois a outra perna. E um a um, ele retirou tudo e atirou tudo para fora da cena, até não restar mais nada do que um dedo, até não restar mais nada do que uma cena.
Mania Akbari.
Dia Monteiro-8
NÃO HÁ CARNAVAL SEM O CABAZ.
in Cinéfilo nº 21, 23 de Fevereiro de 1974.
A carestia da vida, a escassez e péssima qualidade dos géneros alimentícios, a assustadora miséria dos espectáculos que habitualmente circulam por esse país fora, a todos afecta mais ou menos, não podendo, de igual modo, deixar de afectar uma revista que se quer de todos, como queremos que o Cinéfilo seja: Sinceramente vosso. Não esquecemos, nem tão cedo esqueceremos, a quadra terrível, escrita anos atrás, quando não se haviam ainda extinguido, no horizonte, os infernais clarões da guerra, pela pena inflamada de um afamado poeta do Porto: Os pobres trabalham cedo/ Cedo começam a vida/ Tudo neles é sempre cedo/ 'Té a fome e a desgraça.
Pensando em tudo isto, não podíamos ficar indiferentes ao surto folgazão da quadra, e decidimos, dentro das nossas magras especialidades, minorar as penas do alheio, oferecendo um opíparo e nutritivo cabaz com 1 bacalhau, 2 bilhetes para o Politeama, 1 litro de azeite, 1 barra de sabão amarelo, 2 bilhetes para o Teatro Nacional, 1 quilo de açucar pilé, 1 biberão para lactantes devidamente esterilizado, 1 morcela da Guarda, 1 disco da dupla Ary-Tordo, 12 bichas de rabiar, 1 dúzia de coloridas serpentinas & "confetis", 2 garrafinhas de mau cheiro e 1 raminho de violetas a quem for capaz de nos enviar o melhor e mais enfeitado "cabaz", com disparates publicados sobre espectáculos.
in Cinéfilo nº 21, 23 de Fevereiro de 1974.
passe precise. passe precise. passe precise. Mozer-2, Fernando Couto-0.
29/07/2009
#18. com o Phantom Limb.
#30- Les Glaneurs et La Glaneuse, de Agnès Varda (2000)
#29- Hundstage, de Ulrich Seidl (2001)
#28- Takeshis', de Takeshi Kitano (2005)
#27- Before Sunset, de Richard Linklater (2004)
#26- Femme Fatale, de Brian De Palma (2002)
#25- Rapace, de João Nicolau (2006)
#24- Yi Yi, de Edward Yang (2000)
#23- Million Dollar Baby, de Clint Eastwood (2004)
#22- Bijitâ Q, de Takashi Miike (2001)
#21- Los Muertos, de Lisandro Alonso (2004)
#20- There Will Be Blood, de Paul Thomas Anderson (2007)
#19- The New World, de Terrence Malick (2005)
tum tum...tum tum...tum tum...tum tum...tum tum...
Mas alguém conhecedor destas coisas acredita que a banda sonora do The Thing é da autoria do Morricone? Aquela batida repetitiva, do maestro italiano? A não ser que tenha acontecido essa coisa extraodinária de o Carpenter ter dito assim ao prestigiado compositor: Velho, precisamos de ti no genérico para mostramos aos críticos com valores que também nos damos com gente do sistema. Mas nem uma nota escreverás. Descansa, contudo, que metade do orçamento do filme será dedicado exclusivamente à compra do teu nome. Por outro lado, também pode ter sucedido esta hipótese: Velho, gosto de ti, com certeza, és brilhante, com certeza, mas vais compôr como se fosses o John Carpenter. Não te alarmes, que metade do orçamento para o filme será dedicado exclusivamente à compra do teu nome no genérico. Vai lá. E o Morricone lá foi. Nunca ninguém duvidou que tenha sido ele o tocador de serviço. Não desprezar a possibilidade da lobotomia.
o crítico musical (e cinematográfico) do futuro.
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